terça-feira, 9 de junho de 2009

Resposta à Professora-Doutora Ana Fani

A professora-doutora Ana Fani, do departamento de geografia da USP, mandou um e-mail, recentemente, defendendo os piquetes ocorridos no prédio de Geografia-História por eles serem uma forma de forçar a reflexão sobre os acontecimentos na universidade.

Como discordo da professora em questão, escrevi uma resposta ao e-mail dela. Quero compartilhar com vocês.


Em relação ao e-mail enviado pela professora-doutora Ana Fani, a meu ver, a argumentação a argumentação adotada por ela foi bastante equivocada.

Se piquete é condição para os estudantes da USP, em tese, a elite pensante desse país, refletir sobre algo, é sinal de que o debate dentro do departamento tanto de história e geografia está escasso ou em nível insuficiente a ponto de gerar uma criticidade. E dentro da linha de argumentação da professora, o piquete, um ato que ela indiretamente considera violento ("Pois é, não dá para entender nossa sociedade ignorando o sentido e os usos do espaço. As barricadas delimitam, organizam o fluxo, impedem o uso e a apropriação pelo corpo") é que gerará o debate, pois acordará as consciências "adormecidas" e as despertará para o debate ("Elas nos obrigam a reflexão. O que as motivam é a necessidade de, diante de arbitrariedades, exigir o debate").

Mas a professora, em vez de aceitar o debate como fonte geradora de opiniões díspares, apenas endossa a forma atual de "discussões" no departamento de Geografia quanto de História - onde deve prevalecer apenas uma opinião única, não abrindo espaço para uma multiplicidade de posições, usando da tática do menosprezo quando as idéias que ela toma como postulado não prevalecem ("Até alguns alunos acham necessária a presença policial no campus; aprenderam com quem?").

A professora-doutora cai em contradição no parágrafo seguinte. Se ela defende o piquete - que ela mesma assume ser uma ação violenta - como forma de reflexão, diz que a "invasão" policial impede o debate, pois ao ver dela, a natureza da intervenção policial no campus é de contenção do debate político ("Quando se interrompe o debate arbitrariamente, impedindo avanços, a greve se torna legítima"). A professora parece esquecer que o piquete é uma forma autoritária, inconstitucional e abusiva de um grupo querer impor as suas opiniões sobre os discordantes.

A assembléia da História, que votou o piquete, tinha pouco mais de 100 pessoas, e ela entende ter soberania para decidir que todos os estudantes da História e Geografia devem deixar de exercer suas atividades normais para aderir à greve. A assembléia não tem autoridade alguma para deliberar algo que foge ao escopo legal, como é o caso do piquete, mas esse não é o foco que será conduzida a crítica. O fato de apenas 100 pessoas decidirem por mais de 2 mil pessoas que utilizam diariamente aquele prédio parece não incomodar a professora-doutora. Ao contrário, ela acha tal ação necessária ("Tristes tempos! Obriga-nos pensar na degradação da universidade e na necessidade de pararmos tudo para refletir sobre nossas atividades, projetos e compromissos").

Para a professora, qualquer ação que discorde de piquetes, que para ela são "manifestações da greve", é um ato de autoritarismo ("se acreditamos minimamente na necessidade/importância da democracia é absurdo questionar o ”direito de greve” e de suas manifestações"). Dos dados tomados do texto de Fani, podemos ver que para ela, a ação de uma minoria de estudantes que impõe à maioria uma adesão às suas idéias e uma paralisação de suas atividades cotidianas, além do fato de obstruir o uso de um prédio público, ferindo a lei, é algo aceitável e democrático ("Estes são momentos de realização concreta da democracia, do exercício do “direito à diferença”), enquanto a presença policial no campus - por mais que a natureza da ação policial no campus, até o momento, não tenha sido repressiva - por si só é agressiva por ela ser o braço armado dos órgãos institucionais, estando lá para garantir, em tese, a legalidade.

Ora, a professora-doutora apóia uma violência como o piquete e repudia a presença policial, por achar a universidade um espaço em que as idéias e o debate devem prevalecer cai em uma grande contradição em sua argumentação. Se a universidade é um local de idéias e liberdade, o piquete é a manifestação máxima de contrariedade desse espírito universitário defendido por ela.

Sendo um local onde as principais armas são as idéias, os estudantes deveriam dar o exemplo, abrindo-se à discussão, respeitando as opiniões divergentes, em um espírito democrático e construtivo de idéias. Em um local desses, o piquete perde a sua razão de existir, pois se a maioria realmente estivesse de acordo com a paralisação das aulas como forma de protesto, ninguém viria assisti-las, e quando muito, uma minoria inexpressiva iria vê-las, não tendo quorum para a ministração de aulas.

Mas o que se viu foi algo totalmente diferente da idealização da professora do piquete sendo uma manifestação "democrática e do diferente". Os piqueteiros agiram violentamente contra quem tentou assistir aulas ou quem se demonstrou contra o bloqueio do acesso às salas de aula. Houve agressão, tanto física quanto verbal, aos que tentaram retirar às cadeiras ou mesmo conversar e tentar chegar a um consenso entre partes divergentes. Inclusive a presença da polícia na História se deu por um dos piqueteiros ter empurrado uma menina, e o namorado dela, para não agredir o agressor, chamou a polícia para resolver o assunto.

A verdadeira natureza do piquete é uma minoria que se arroga representar os estudantes impedindo de maneira repressora, violenta e autoritária as opiniões discordantes expressarem-se, impondo represálias aos que ousam se opor aos seus desígnios, ou se desviem de seus postulados (inclusive uma amiga minha, ao tentar dialogar com os piqueteiros, explicando que essa não era a melhor maneira de convencer as pessoas aderirem à eles, foi chamada de "pacifista tapada").

Se a presença policial, pela natureza da própria corporação, pode ser considerada violenta por alguns, não se pode deixar de concordar que a ação dos piqueteiros, movidos em sua esmagadora maioria por ideologias e partidos de esquerda com viés autoritário e totalitário em sua doutrina e formação ideológica (embora travistam suas opiniões e ações como "populares" e "democráticas") *, também é autoritária, repressora e normatizadora, e coíbe manifestações contrárias às suas idéias, mesmo que elas sejam as da maioria (uma militante e piqueteira disse para mim, na sexta (05 de junho) que a luta dela é a luta da minoria, ou seja, impõe-se a vontade da minoria sobre a maioria).

Prova disso é o modelo da assembléia estudantil feita em nosso prédio, onde prevalece um espírito repressor (idéias contrárias às da liderança da mesa não são bem vindas, sendo coibidas com vaias, coação moral ou em alguns casos, física), corrupto e manipulador (é de conhecimento geral que os resultados das assembléias são manipulados por vários métodos), sendo elas desacreditadas pela maioria dos estudantes como método de representação estudantil. Fórmulas apresentadas ao movimento estudantil de mudança do método de votações têm sido sumariamente rejeitadas. Mas esse é um assunto para outra crítica.

E o restante do texto da professora cai no senso comum, porém incontestável, de que a universidade não é apenas um espaço de preparação do aluno para o mercado de trabalho, mas também é local de pesquisa acadêmica e aprendizado do exercício do livre-pensamento. Mas Fani falha ao desdenhar a função da preparação do aluno para a atuação no mercado como algo negativo, pois ela esquece-se que o ramo de pesquisa é limitado, além de muitos não quererem seguir esse caminho, procurando vantagens financeiras no mercado. A universidade deve abranger um escopo de preparação vasto, possibilitando ao aluno o preparo para poder atuar em diversas áreas com eficiência e competência e embasamento científico."

*Não acho que toda a esquerda seja autoritária, apenas a linha esquerdista mais atuante na História e Geografia prima por um viés autoritário e totalitário da doutrina, assemelhando-se em vários graus ao modelo stalinista.


Éder Nunes Souza

Cursando Graduação em História Pela Universidade de São Paulo

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